sábado, 6 de novembro de 2010

Comentário postado no skoob pelo jornalista Paulo Antunes



“A Escolha de cada um”

Paulo Antunes*

Já não é sem tempo de saldar a dívida com a jovem escritora Regina Monge que acaba de lançar “A Escolha de cada um”, seu primeiro romance, pela Editora Novo Século, no contexto da coleção “novos talentos da literatura brasileira”. Digo que estou em divida porque aos amigos não se faz esperar e, no meu caso, em relação ao livro de Regina cometi o pecado da demora. Vou tentar compensar.

Primeiro, após a seção de autógrafos em uma noite fria paulistana de julho, coloquei o livro entre aqueles que seriam lidos, visto que envolvido que estou com estudos, pesquisas e cursos sobre a história do cinema, tinha o dever de dar conta de alguns deles para cumprir com as responsabilidades. O tempo foi passando e “A Escolha....” permanecia ali em minha mesa de trabalho, como que me fitando, indicando que ali estava uma criação que me foi apresentada e eu devia, portanto, dar conta de promover o diálogo entre o autor e o leitor, quando toda e qualquer obra efetivamente se realiza.

Regina Monge é uma amiga recente. Acho que já posso fazer essa afirmação. Pelos desígnios da vida quis o destino que nos encontrássemos. Foi no curso “História e Linguagem do Cinema”, na PUC/Cogeae, em São Paulo, que nos conhecemos. De simples colegas de sala de aula, passando pela troca de impressões e informações sobre filmes, diretores, fomos nos conhecendo e soubemos que os nossos afazeres profissionais poderiam se complementar em parceria de trabalho, tanto que depois de terminado o curso, por diversas vezes, tivemos a oportunidade de oferecer nossos serviços para empresas necessitadas de um bom trabalho de comunicação corporativa, por exemplo.

Bem, mas o que interessa é “A Escolha de Cada Um”. A leitura é muito agradável e se não tomamos o cuidado absorvemos a obra de um só impulso. Não sou desse tipo de leitor. Gosto de estar com os personagens, sejam eles de ficção ou não, por um bom tempo, para, por assim dizer, conviver com eles, suas histórias, partilhar de seus problemas, angústias, alegrias e realizações. Afinal, o autor consome um longo tempo para maturar sua história, construir seus personagens, e não considero justo e correto que o leitor de conta da obra sem os devidos cuidados e atenção. Foi assim com o livro de Regina Monge. Tomei-o para mim em uma dose de cinco ou seis encontros.

Cumprida a tarefa passei a promover uma espécie de decantação da história, seus personagens e encará-los frente à autora do livro que acabara de conhecer nos últimos dois anos. O que posso dizer como leitor e não como crítico literário, coisa que efetivamente não sou, é que o trabalho de Regina Monge surpreende. Surpreende positivamente. Sua escrita corre solta, desenvolta, principalmente na segunda parte do livro, quando somos apresentados à história que nos é informada na primeira parte da obra, quando ninguém menos que “um livro” é o personagem principal que dialoga com os leitores, sobre a trajetória que "Ele", enfrenta para emergir das intenções da autora, ser efetivamente edificado como obra e posteriormente transformado em um produto pela gráfica e editora, até chegar às prateleiras das livrarias, bibliotecas e estantes daqueles que efetivamente vão materializar a obra: os leitores.

Confesso que apreciei mais a segunda parte, quando a autora parece mais senhora de si, conhecedora dos assuntos e onde constrói personagens vivos e atraentes que tem uma experiência de vida para nos contar. Compreensível, porque afinal não é fácil tornar um ser inanimado em um personagem com características humanas. Isso não é inédito. No cinema, na literatura já existem outros exemplos onde seres inanimados ganham a dimensão humana da razão e dos sentimentos. Há também os casos de seres vivos como os animais e plantas que ganham características dos seres humanos, muito notabilizados em filmes e desenhos animados. No caso de Regina a coisa funciona e bem. Sua escrita curta incisiva e objetiva dá o tom e constrói esse personagem “o livro” nas páginas do livro que estamos lendo e que mais adiante vai nos contar uma história fadada ao sucesso.

É nessa segunda parte, porém, onde Regina expõe e explicita uma linda história de amor, com personagens sempre bem resolvidos, com vidas para cima num mundo bastante idealizado, sem grandes contradições. Contudo, a história nos reserva surpresas quanto a um dos personagens que vem de algum lugar para indicar o caminho a seguir para a personagem central. Não vou adiante para não estragar a surpresa dos futuros leitores. Nesse particular, aliás, não é de modo algum “oportunismo” da autora tratar do tema da transcendência da vida, um dos temas do “boom” editorial do espiritismo que chega com muito mais força na literatura e no cinema nacional ao trazer para as telas o médium Chico Xavier. Sim, não se trata de senso de oportunidade porque como bem sabemos, nós os amigos de Regina, ela revela que a idéia do livro nasceu há muito tempo e foi acalentada por mais de uma década.

Oxalá, o livro se aproveite do “boom” literário que no momento se apresenta para surfar a onda e os bons ventos do sucesso. Tenho certeza de que o leitor não se arrependerá.

Para concluir tenho apenas um reparo. Regina tem um estilo mais seco, os cortes das frases curtas se assemelham à edição de cenas de cinema. Na verdade gostaria de prosseguir convivendo mais com seus personagens e isso neste caso ficou restrito às 157 páginas de seu pequeno romance. Competente como é deve ter pensado ao colocar o ponto final em sua história: “este é apenas um capítulo de uma história de sucesso que espero construir”. Pela amostra não tenho dúvida disso.

Na dedicatória que fez no meu exemplar, Regina disse que recentemente eu havia sido uma conquista muito especial para ela. De fato, todos os dias somos postos diante de situações, pessoas, desafios e devemos fazer nossas escolhas. Quando assim procedemos, ou seja, escolhemos alguém para partilhar a amizade isso é muito importante e nos torna sempre mais ricos como seres humanos. É assim que me sinto em relação à amiga Regina Monge, cuja convivência começou em uma sala de aula e agora se espraia pelo universo como mais uma energia positiva em prol da paz, do amor e do entendimento entre os seres humanos. Nesses tempos isso não é pouco.

Paulo Antunes é jornalista especializado em assuntos de meio ambiente e pesquisador da história do cinema.

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